Conversamos com o representante da companhia no Brasil para saber como trabalha a líder do mercado de mobilidade
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Desde o ‘boom’ do setor de mobilidade um nome vem discretamente acompanhando os principais lançamentos do mercado. A ARM
está por trás de mais de 90% dos smartphones e tablets do mundo. Tudo
isso gracas ao seu modelo de negócio, pelo qual a companhia britânica
licencia o design de seus processadores para fabricantes.
Diferentemente das tradicionais produtoras de chips, como a Intel, a ARM
se concentra em desenvolver arquiteturas e vender sua propriedade
intelectual para outras empresas. A companhia vive de royalties, o que
garante um bom faturamento mesmo em tempos de estiagem.
"Nossa tecnologia está presente desde o chip de um
controle remoto de TV até nos eletrodomésticos conectados na chamada
‘internet das coisas’", afirmou José Antônio Scodiero, representante da
companhia no Brasil, em entrevista exclusiva ao Olhar Digital.
O setor menos representativo para a companhia ainda é o
de PCs, dominado com folga pela Intel. Nesta disputa, no entanto, a
companhia deu um passo significativo depois que a Microsoft lançou o Windows RT com um chip baseado em sua arquitetura - algo inédito na história da Microsoft.
Com isso, surgiram planos ambiciosos para o mercado de
PCs. O vice-presidente executivo da companhia, Ian Drew, afirmou no fim
do ano passado que a empresa quer conquistar 10% do mercado de chips de
computadores pessoais em 2013. E Scodiero reforçou a ideia ao comentar
que a adoção da Microsoft "valida a arquitetura ARM em outros mercados além da mobilidade".
A 'guerra dos chips' esquentou no ano passado, quando ARM e Intel começaram a competir na conquista do mercado alheio. Enquanto a britânica trabalha com o Google (Chromebook) e Microsoft, a Intel
aumenta sua atuação no mundo dos smartphones por meio de parcerias com
seis fabricantes que possuem em seus modelos o processador Atom.
A empresa europeia ainda se mune de outras
oportunidades, segundo o representante brasileiro. A AMD, outra rival da
Intel, vai começar a produzir chips ARM
para servidores, que têm como objetivo diminuir consumo de energia,
tamanho e preço. Se a parceria der certo, a europeia pode abocanhar mais
um mercado cheio de oportunidades.
"Somos um ingrediente que faz parte da maioria das
grandes empresas de chips. Elas podem comprar partes separadas e montar
seu próprio produto. O mercado está fragmentado e nosso modelo de
negócios cai muito bem neste mundo", disse Scodiero. "A empresa
licenciou 9 bilhões de chips só em 2012, sendo que em toda sua história
[22 anos] tinha chegado a 20 bilhões. Esta explosão de chips na
mobilidade e, quem sabe em outros mercados, vai elevar este número para
30 bilhões em 2020."
Menor chip ARM do mundo com 2x2x0,5 milímetros
Menor chip ARM do mundo com 2x2x0,5 milímetros
Resultados
A britânica de chips tem colhido bons frutos com seu modelo de negócio. Ela lucrou mais do que o esperado no último trimestre de 2012. A alta de 16% no valor recebido antes de descontados os impostos gerou lucro de 80 milhões de libras (cerca de US$ 120 milhões) e receita de 164,2 milhões de libras (cerca de US$ 246,3 milhões) - um ganho de 4,08 libras por ação.
A britânica de chips tem colhido bons frutos com seu modelo de negócio. Ela lucrou mais do que o esperado no último trimestre de 2012. A alta de 16% no valor recebido antes de descontados os impostos gerou lucro de 80 milhões de libras (cerca de US$ 120 milhões) e receita de 164,2 milhões de libras (cerca de US$ 246,3 milhões) - um ganho de 4,08 libras por ação.
Já as ações se valorizaram em 51% nos 12 últimos meses,
atingindo a maior cotação em 12 anos. Analistas projetam elevação de 5%
a 6% nos lucro da empresa em 2013.
Vale lembrar que apesar do atraso no mercado de mobilidade, a Intel
ainda apresenta receita superior. No quarto trimestre de 2012, a
companhia anunciou receita de US$ 13,5 bilhões, dos quais US$ 2,5
bilhões representam lucro líquido. Contudo, o resultado é 27% inferior
ao registrado no mesmo período do ano anterior.
Por outro lado, a Qualcomm, cliente da ARM
e principal rival da Intel, passou a concorrente em valor de mercado no
período, se tornando a maior fabricante de semicondutores do mundo. A
diferença é mínima e ocorreu pela primeira vez na história: US$ 104,82
bilhões para a Qualcomm, contra US$ 104,53 bilhões para a Intel.
Solo brasileiro
Por aqui, a ARM
ainda caminha devagar. A empresa está presente há três anos no país
dando suporte aos clientes mundiais que também trabalham no mercado
nacional e à frente de um projeto concebido pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação.
O programa, chamado de CI-Brasil, tem como objetivo
incentivar a atividade econômica na área de projeto de circuitos
integrados, além de expandir a formação de projetistas e desenvolver a
indústria nacional de semicondutores.
O Brasil possui o terceiro maior mercado mundial de
computadores pessoais, mas não tira todo o proveito que poderia dessa
situação, já que os componentes vitais para essa indústria têm de ser
trazidos de fora a preços elevados.
"Oferecemos licenças e damos suporte técnico para
centros de treinamento, em Campinas e Porto Alegre, para que os
engenheiros estejam aptos a trabalhar com arquitetura ARM. Se as Design
Houses [empresas que atuam no desenvolvimento de projetos de circuitos
integrados] se tornarem comerciais a ARM terá um bom futuro no Brasil", explicou.
Scodiero coordena as ações da ARM
dentro da sua própria empresa, a FastCompany, uma espécie de
aceleradora de companhias estrangeiras que querem se firmar no país. A
ARM, portanto, ainda não possui escritório no Brasil e esta conquista
está atrelada ao sucesso da CI-Brasil, de acordo com o executivo.
"Eu apresentei uma proposta à ARM
de representar a empresa no Brasil. Mostrei um plano de negócios para o
quadro de executivos da companhia e decidimos que eu atuaria em duas
frentes aqui: desenvolvimento de negócios e suporte a clientes, como
Qualcomm, NVidia, Texas Instruments...", contou.
A parceria, no entanto, não tem data de término. A
companhia só virá oficialmente ao Brasil quando tiver oportunidades que
justifiquem a abertura de um escritório e contratações. Até isso
acontecer, Scodiero tocará as atividades da britânica por aqui e, quem
sabe, pode manter o cargo mesmo após a chegada da companhia.
"Nós não estipulamos quando e se eu sairia de campo. Eu
me reporto para dois executivos da companhia com os quais tenho
cumplicidade e parceria. Acho que vamos analisar a melhor forma de
inserir a ARM no Brasil no momento que isso acontecer".
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