Em entrevista exclusiva, Guilherme Wroclawski conta como construiu um negócio às pressas e às cegas
Reza a lenda empresarial que para empreender é preciso conhecer muito
bem o segmento cobiçado. Mas, Guilherme Wroclawski e Heitor Chaves,
fundadores do site SaveMe, são a prova viva de que colocar a ‘mão na
massa’ pode vencer a falta de conhecimento.
Em 2009, quando resolveram empreender, os amigos decidiram em um
bate-papo informal que abririam um site de compras coletivas. Com o
mesmo espírito despretensioso, meses depois, abandonaram a primeira
ideia para tocar um projeto novo: um agregador de ofertas.
Sem dinheiro para investir na tecnologia necessária ou informações
suficientes sobre o cenário de startups, ambos passaram quatro meses
inserindo manualmente todas as promoções encontradas na web.
"Por um tempo trabalhávamos nos dois projetos: Coletivar [site de
compras coletivas] e ZipMe [agregador de promoções]. Das 9h às 19h
ficávamos no Coletivar e a partir da meia noite passávamos a incluir as
ofertas no agregador. No início precisávamos de poucas horas. Depois,
passávamos a madruga em claro. No meio disso, ainda tínhamos que
entregar o TCC [trabalho de conclusão de curso] da GV", lembra
Guilherme.
O ZipMe se popularizou e começou a faturar. Um investidor ofereceu
injeção de capital, mas no dia do fechamento do acordo, o Buscapé
recorreu à dupla. Eles optaram pela empresa brasileira e, em outubro de
2010, se alojaram no escritório da companhia, onde estão até hoje.
Atualmente,
a vida da dupla é um pouco mais fácil. Com um orçamento polpudo, cerca
de R$ 5 milhões apenas para o plano de mídia, eles possuem toda a
infraestrutura necessária para comandar o site líder no setor de
ofertas.
Em entrevista ao Olhar Digital, Guilherme lembra o
início do projeto e reforça a ideia de que a flexibilidade e dedicação
são essenciais no empreendedorismo. Confira o bate-papo abaixo.
Olhar Digital - Conhecendo sua história, parece que vocês
usaram o conceito de "Lean Startup", que tem como principal
característica colocar o produto no mercado e ajustá-lo conforme os
feedbacks dos usuários. Vocês já conheciam este conceito? Sabiam qual
caminho seguir no início?
Guilherme Wroclawski - Seguimos este conceito sem
conhecê-lo. Aliás, não sabíamos muita coisa do mercado de
empreendedorismo. Também tínhamos pouco conhecimento do segmento de
tecnologia. Abrimos o 'Coletivar' antes de estudar o setor. Na semana do
lançamento, descobrimos que o Peixe Urbano já tinha seis mil
cadastrados, o Groupon estava chegando ao Brasil e o ClickOn tinha
acabada de ganhar um belo investimento.
Pensamos: "Ferrou! Vamos ter que repensar nosso negócio". Mas, a
ideia do SaveMe surgiu naturalmente. Ao entrarmos nos sites de compras
coletivas pensamos que seria inteligente agregar todas as ofertas em um
único lugar.
O fato de não conhecermos muito a área não nos trouxe vícios e
pudemos pensar como usuários. Além disso, não nos prendemos ao Business
Plan. Tivemos flexibilidade para pivotar, mudar de ideia.
Eu tento levar este estilo de empreendedorismo para todos os lugares.
O principal para mim é prestar atenção no todo, se dedicar e correr
atrás.
OD - Como foram os primeiros meses do SaveMe, que na época era chamado de ZipMe?
GW - Foi um superaprendizado colocar o site no ar
para testá-lo, especialmente porque Heitor e eu éramos tudo: SAC, TI,
RH... Para quem está iniciando o ideal é aprimorar o produto ao longo
dos acontecimentos. Diversas coisas que deram errado se tornaram grandes
aprendizados, até o fato de termos 'errado' na criação do primeiro
site.
Hoje em dia eu vejo que o obstáculo, como o que passamos para incluir
as ofertas sem a ajuda de tecnologia, é o que te diferencia dos
concorrentes. Todos chegam a alguma barreira, cabe a você saber
ultrapassá-la. E quando se acha uma maneira, este problema se torna uma
fonte de valor. Você vira expert em resolver problemas.
OD - Além da dedicação, o que é necessário para empreender? Há uma pitada de sorte?
GW - Acredito que o networking [rede de
relacionamentos] seja um dos pontos mais importantes. Aqui no Brasil
muitas pessoas têm a síndrome dos gêmeos do Facebook [irmão Winklevoss,
que acusaram Mark Zuckerberg de roubar a ideia da rede social], e acham
que todos vão roubar sua ideia. Mas isso não acontece. Ninguém está
esperando uma brecha para copiar algo. O sucesso se compõem de 10% ou
20% de ideia e o resto de implementação. Cada um faz de uma forma e você
sempre deve buscar fazer algo diferente do concorrente.
Tem que dar a cara a tapa, expor suas ideias. Quando começamos, não
sabíamos muita coisa, e usamos o networking ao nosso favor. Um amigo
advogado ajudou, outros deram indicações de programadores...
OD - Ao abordar o tema 'empreendedorismo no Brasil', fica a pergunta: quão difícil é vencer no país das burocracias e impostos?
GW - Abrimos a empresa com a ajuda de contadores da
família e grande parte do nosso investimento foi usado para essas
burocracias – até por isso não conseguimos investir muito em tecnologia
[eles tinha R$ 5 mil em caixa]. Mas, ao entrarmos no Buscapé,
conseguimos evoluir e acho que esse foi o grande diferencial. Dentro da
empresa tivemos toda infra-estrutura necessária, desde computadores ao
RH.
O fato de não termos de ter construído uma empresa completa sozinhos
fez com que pudéssemos nos focar apenas no core business [principal
negócio]. E este foi o argumento do Buscapé quando nos abordaram, e o
diferencial do primeiro investidor, que só injetaria o dinheiro e nos
deixaria sozinhos para tocar a empresa.
Acho que no Brasil um bom modelo para se seguir é esse. Hoje, dentro
da empresa, passamos de comprado para compradores. O SaveMe adquiriu o
Modait e tem 75% da startup. Claro que o modelo a seguir depende muito
do negócio e da experiência dos envolvidos.
OD - Logo após a criação do SaveMe, o mercado de compras
coletivas caiu. Um dos motivos foi a falta de comprometimento dos
fornecedores. Como isso afetou vocês? E como contornaram a situação?
GW - Há muito tempo sabíamos que as ofertas do
SaveMe não poderiam se restringir às compras coletivas. O site começou
com essa ideia, mas, logo se tornou um grande agregador de promoções, um
facilitador para quem busca ofertas na web. No primeiro ano já tínhamos
outras iniciativas, como a Black Friday, em que o site oficial foi o
SaveMe.
Acredito que a grande contribuição dos sites de compras coletivas não
foi a compra online, mas, a compra de serviços pela internet. Quem
antes comprava um corte de cabelo ou um almoço em um site? Isso fez toda
a diferença no mercado e refletiu no SaveMe também, que pôde agregar as
mais diversas ofertas e das mais diversas maneiras.
Surfamos o tsunami das compras coletivas e agora estamos aproveitando
outras ondas. Somos o hub de ofertas, o outlet online, os caçadores de
promoções no varejo... A premissa lá atrás sempre foi: vamos ajudar os
usuários a comprar com preços melhores, independente de onde vinha
aquela oferta.
Mas é importante lembrar que somos rigorosos com nossos fornecedores.
Avaliamos todos desde a Amazon até o menos conhecido. Fazemos
varreduras nas redes sociais, fale conosco e Reclame Aqui. Também temos
um esquema de advertência, a cada três recebidas, o fornecedor é
afastado do site até que o negócio esteja solidificado. Por mais que eu
perca certo faturamento com a ausência de alguns fornecedores, a falta
de comprometimento pode acabar com a reputação da minha empresa no
futuro.
Guilherme e Heitor, fundadores do site agregador de ofertas
OD - Com essa versatilidade do site, podemos esperar mudanças?
GW - No mercado de ofertas, a mobilidade tem grande
importância, porque mexemos com o impulso. A geolocalização, por
exemplo, é uma excelente plataforma para ser explorada. Podemos mostrar
ofertas próximas do usuário.
Atualmente o acesso nos
dispositivos móveis corresponde a 10% a 15% do nosso negócio, sendo que
os tablets são mais usados que os smartphones. A curva é interessante,
porque em um ano o número dobrou. A velocidade de crescimento que
tivemos no início com a web, temos agora no mobile, por isso, olhamos
com carinho para a plataforma. Mas, ainda estamos discutindo como será a
experiência do SaveMe nos dispositivos móveis.