A
estreia do Mega, no último final de semana, marca uma vitória pessoal de Kim Dotcom. O extravagante milionário por trás do
Megaupload
e responsável pela nova versão do serviço, conseguiu superar as
acusações do governo dos Estados Unidos e de representantes dos estúdios
de Hollywood, que tanto lutaram para vê-lo atrás das grades.
Entretanto,
além de fracassar na missão de conseguirem incriminar Dotcom por
infringir direitos autorais e lavar dinheiro com o Megaupload, seus
rivais ainda conseguiram mais um feito negativo. Com estas ações,
alçaram o nome do carismático empresário alemão ao patamar de um dos
maiores lutadores da liberdade na internet.
Dotcom
se aproveitou da popularidade de seu site de armazenamento de arquivos e
do fato de seu fechamento coincidir com os protestos contra SOPA e PIPA
para fazer seu nome conhecido.
A polêmica gerada em torno de
Dotcom é bastante semelhante a outros casos de outros defensores de
causas relacionadas à internet.
Conheça a história do empresário e outros casos de ativistas que ganharam nome por defenderem a liberdade na rede:
Nome: Kim Dotcom (nascido Kim Schmitz)
Responsável por: Megaupload e Mega
Luta por: Privacidade
Estado atual: Livre
História: Kim
Dotcom sempre operou nas beiradas da lei, ultrapassando o limite da
ilegalidade algumas vezes. Ele ganhou notoriedade ainda adolescente ao
alegar que havia conseguido hackear a NASA e o Pentágono. Na Alemanha,
ele já foi indiciado por contrabando, fraude na bolsa de valores e em
computadores. Também já foi multado por operar uma empresa não
registrada em Hong Kong.
Foi com o
Megaupload
que Dotcom arrumou seu maior problema judicial. O serviço foi criado em
2003 e era amplamente utilizado para distribuição de conteúdo protegido
por direitos autorais. Segundo órgãos americanos, o
Megaupload era voltado não para o armazenamento de arquivos, mas para o download, evidenciando isso durante o processo.
Após
um longo processo de espionagem do governo americano sobre os usuários e
sobre Kim Dotcom, no início de 2012, a polícia da Nova Zelândia, com o
apoio do governo americano, invadiu a casa do empresário e o prendeu,
confiscando seus bens,
além de fechar definitivamente o Megaupload. Os mandados contra ele, no entanto, foram considerados inválidos com o decorrer do processo, deixando-o livre para
processar os responsáveis pela espionagem ilegal.
Desde que viu seu serviço extinto devido a espionagem, o milionário aproveitou a notoriedade do caso
Megaupload
e se engajou na luta pela privacidade na internet. Este virou,
inclusive, o lema do seu novo site, o Mega, e de sua empresa, a Mega
Limited, que opera sob o bordão “a empresa da privacidade”. Se isso foi
uma estratégia isolada para ganhar mais popularidade na rede, só suas
ações de agora em diante dirão. O grupo hacker
Anonymous já condenou o empresário,
afirmando que ele é apenas um delator para o governo americano.
Nome: Julian Paul Assange
Responsável por: WikiLeaks
Luta por: Liberdade de informação
Estado atual: Asilado na embaixada do Equador em Londres
História: Desde
jovem, Assange já estava ligado a computadores, atuando como um hacker
ainda na adolescência. Ele também trabalhou como programador, mas foi só
com seu trabalho por trás do
WikiLeaks que ele foi mundialmente reconhecido.
O
site foi fundado oficialmente em 2006, com a premissa de divulgar
informações secretas de governos opressores, obtidas por hackers que
invadiram seus servidores, para forçar mudanças nestes regimes.
Entretanto,
a página ganhou notoriedade em 2010, quando um soldado americano
chamado Bradley Manning repassou informações sigilosas do exército para o
WikiLeaks
e foi preso por isso. O caso gerou burburinho em torno da organização,
que estava divulgando telegramas diplomáticos confidenciais do governo
americano. Durante o julgamento de Manning, foi constatada a colaboração
de Assange.
Atualmente, o cabeça do
WikiLeaks
tem um mandado de prisão europeu contra si. Ele é acusado de agressão
sexual contra uma mulher na Suécia. Depois de apelar para a suprema
corte britânica contra a execução deste mandado, e a consequente
extradição para o país, Assange decidiu não se render e fugiu. Desde
2012 ele está refugiado na embaixada do Equador em Londres, onde recebeu
asilo diplomático e de onde ele não pode sair, ou será preso pela
polícia britânica.
Ele teme que, se for para a Suécia, será extraditado para os Estados Unidos, onde poderá enfrentar julgamento pelo vazamento de documentos do país.
Nome: (Esq. para a dir.) Fredrik Neij, Gottfrid Svartholm e Peter Sunde
Responsáveis por: The Pirate Bay
Luta por: Liberdade de compartilhamento de arquivos
Estado atual: Gottfrid Svartholm está preso, Fredrik Neij vive no Laos e Peter Sunde está livre
História: O
The Pirate Bay não é só um site de torrents. Ele é um símbolo de quem
apoia o livre compartilhamento de arquivos. Mas isso começou em 2003,
quando os jovens suecos Gottfrid Svartholm, Fredrik Neij e Peter Sunde
fundaram a página.
O site ficou conhecido pela falta de restrição
sobre o tipo de conteúdo que poderia ser compartilhado em seus
servidores. Por este motivo, filmes, músicas, seriados de televisão e
todos os tipos de conteúdo protegido por direitos autorais estavam lá
(ainda estão).
Foi em 2009 que os três fundadores finalmente
precisaram responder judicialmente pelo site, juntamente com Carl
Lundström, presidente do servidor que hospedava o Pirate Bay. Todos
acabaram condenados a um ano de prisão e ao pagamento de cerca de US$
3,5 milhões aos afetados. Todos apelaram e tiveram redução de sentença,
mas a multa foi aumentada. Eles foram obrigados a deixar o comando do
The Pirate Bay, que foi passado para outras mãos, ainda desconhecidas.
Gottfrid
Svartholm, no entanto, não conseguiu comparecer ao julgamento por
motivo de doença e teve sua pena inicial mantida. Em 2012, após anos
foragido, ele foi encontrado e preso no Camboja e deportado para a
Suécia, onde está preso e
chegou a ser mantido na solitária.
Sunde e Neij se uniram para criar o Bayfiles, serviço de hospedagem de
arquivos que, ao contrário do Pirate Bay, tenta seguir a lei.
Nome: Aaron Swartz
Responsável por: Demand Progress, Reddit
Luta por: Liberdade de informação
Estado atual: Suicidou-se em 11/01/2013
História: Da lista organizada pelo
Olhar Digital,
é o ativista que menos causou problemas para a justiça. Entretanto, seu
caso resultou em um fim trágico neste mês, quando, vendo-se ameaçado de
ter que pagar uma multa pesada e ficar até 35 anos na prisão, Swartz
tirou sua própria vida se enforcando em seu apartamento.
Aaron
Swartz teve uma vida muito ligada à tecnologia, podendo ser considerado
um prodígio. Foi um dos co-autores do RSS 1.0 ainda adolescente,
participou do W3C, que define os padrões da internet mundial, foi um dos
membros fundadores do Reddit, foi editor da Wikipedia, mas não são
estes feitos que o credenciam para esta lista, mas sim sua atuação como
defensor da livre difusão de informação, além de sua participação ativa
nos protestos contra o SOPA e o PIPA no início de 2012.
Em 2008, Swartz baixou e divulgou cerca de 20% dos bancos de dados do
PACER, órgão governamental dos EUA que concentra documentos de domínio
público e que cobra 8 centavos por página. Para isso, ele abusou do
período de testes gratuitos que o serviço oferecia, utilizando um script
para fazer o download automático das páginas. O abuso gerou uma
investigação por parte do FBI, mas o processo foi arquivado.
Foi,
no entanto, em 2010 que aconteceria o evento que culminaria com a morte
de Swartz, quando ele novamente decidiu abusar de um sistema de banco
de dados para divulgar arquivos para o público. Desta vez foi no JSTOR,
que armazena artigos acadêmicos e cobra pelo acesso a eles. Ele utilizou
um script nos computadores do MIT, que oferecia acesso gratuito aos
dados deste banco, para baixar rapidamente os artigos e divulgá-los, mas
foi pego em 2011 e preso por isso antes mesmo de torná-los públicos.
Assim, após um processo considerado exagerado, o ativista poderia pegar
uma pena muito pesada pelos seus atos e suspeita-se de que este tenha
sido o motivo de seu suicídio, uma vez que ele não deixou nenhum bilhete
de despedida.
Nome: Anonymous
Responsável por: Inúmeros protestos
Luta por: Liberdade na rede
Estado atual: Operando
História: Sem
qualquer tipo de representação oficial, não se sabe de onde vem o grupo
hacker Anonymous, nem para onde ele vai. É difícil prever quais serão
suas próximas ações, ou até mesmo quais atitudes tem, de fato, ligação
direta com o grupo. Entretanto, trata-se de um fato: é uma das
organizações mais influentes atuando na internet.
Em todos os
casos citados na lista acima, houve algum tipo de protesto contra as
autoridades envolvidas por parte dos envolvidos com o grupo hacker.
Durante o fechamento do Megaupload, sites governamentais dos Estados
Unidos foram derrubados; realizaram ataques a empresas que boicotavam o
WikiLeaks; tiraram do ar páginas das entidades responsáveis pelos
processos contra o The Pirate Bay e ainda atacaram o MIT pelo caso
Swartz.
Sua data de fundação não é exata, mas estima-se que tenha
sido criado em 2003, nos fóruns do 4chan, mas ganhou notoriedade nos
últimos anos, quando tornou a máscara de Guy Fawkes um símbolo de
resistência e luta contra a opressão.
Como o WikiLeaks, sua
atuação, no entanto, não se restringe à esfera da internet. O grupo já
comandou operações de caça a pedófilos, que resultou em denúncias de
vários nomes às autoridades americanas, apoiou o movimento Occupy,
protestou contra homofobia,
contra os ataques de Israel à Palestina e
contra o apagão da internet da Síria, relativo à guerra civil no país, assim como
ataques contra o criador de um site de pornografia ilegal.