segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Entrevista: O homem que desbancou Zuckerberg entre os mais ricos

James Goodnight, fundador do SAS e 10º homem mais rico do mundo, conversou com Olhar Digital nos Estados Unidos


Para alguns desenvolvedores, James Goodnight é uma celebridade. Para outras pessoas, menos familiarizadas com o assunto, este é o executivo que passou Mark Zuckerberg no ranking da Forbes publicado em agosto. Sua fortuna, segundo a Forbes, está em torno de US$ 10,6 bilhões e supera em US$ 400 milhões a de Zuckerberg, que perdeu espaço entre os mais ricos.

Dr. Goodnight, como é chamado por seus funcionários, é um dos fundadores do SAS - empresa líder em softwares de análises de dados - e não gosta de se gabar pelo título de 10º homem mais rico do mundo. O tímido empresário dono da companhia que lidera o ranking do Great Place to Work como uma das melhores empresas para se trabalhar, prefere divulgar seus produtos e falar sobre suas paixões: tecnologia e pedras (ele possui uma imensa coleção exposta na sede da companhia na Carolina do Norte).

Aos 69 anos, Goodnight, que ainda se arrisca na programação de softwares, fundou a empresa durante seu projeto de doutorado, em 1976, e hoje é avaliada em US$ 15,8 bilhões, de acordo com a Bloomberg.  Desde que o SAS foi fundado, nunca reportou uma queda de faturamento, e o sucesso é atribuído  à boa gestão do líder. Os US$ 138 mil conseguidos no primeiro ano se transformaram em US$ 2.7 bilhões em 2011, e os fundadores se uniram a outros 13 mil funcionários, espalhados por 400 escritórios em 134 países.

Em um dos poucos momentos em que não está a bordo de seu jatinho (Boeing 737) particular entre uma filial e outra - o mesmo que levou um grupo de jornalistas da sede da empresa a Las Vegas (Nevada) para um evento anual da companhia - Dr. Goodnight conversou com o Olhar Digital. Durante o bate-papo rápido e bastante objetivo, o 'grande' empresário - que mede quase dois metros de altura - dividiu um pouco de sua trajetória, deu dicas valiosas para desenvolvedores e empreendedores, e comentou o que é preciso ter para trabalhar na sua companhia. Confira abaixo:

Olhar Digital - Como você começou a programar? E como se deu o desenvolvimento do primeiro software do SAS?

Eu comecei a programar cedo e naquela época tinha que carregar os programas na mão. Basicamente o SAS nasceu das experiências que tive na universidade. Eu trabalhava com um grupo na faculdade que analisava os dados de uma companhia de agricultura. Na América do Sul existem algumas empresas deste segmento que usam SAS desde aquela época. [A Embrapa é um dos exemplos. A empresa é cliente da companhia desde sua criação, há 36 anos.] Nós ficamos conhecidos no mercado como um software que analisava este tipo de dado. Percebemos que os ovos não podiam crescer sozinhos, eles precisavam das nossas estatísticas. [risos]

Qual foi o primeiro código que você escreveu? E a primeira análise que você fez?

Acredito que o primeiro trabalho que eu fiz foi com análise de regressão [em estatística esta é uma técnica que permite explorar e inferir a relação de uma variável dependente (variável de resposta) com variáveis independentes específicas]. Eu pegava uma grande quantidade de dados e analisava usando a regressão linear [método para se estimar a condicional (valor esperado) de uma variável y, dados os valores de algumas outras variáveis x]. Já dentro do SAS uma das primeiras coisas que fizemos foi introduzir em nossos softwares mais gráficos e resultados visuais.

A que você atribui o sucesso dos softwares do SAS?

Passamos muito tempo garantindo que os softwares fossem muito ricos, com análises profundas. Em vez de uma ou duas variáveis, colocamos umas 100 opções - algumas delas que as próprias pessoas e clientes nos pediam para inserir. Acredito que o fato de sempre escutarmos nossos clientes fez toda a diferença. Nós sempre fazemos pesquisas e uma vez por ano compilamos as sugestões de melhorias dos usuários.

Vocês usam seus próprios softwares no SAS?

Nós usamos muitos, especialmente na área financeira e de vendas. Utilizamos para prever as tendências e possíveis perdas de clientes. Isso não significa que perdemos muitos usuários, mas prestamos atenção nos sinais para ficarmos alertas e provermos soluções. Com os softwares podemos descobrir se um cliente pode deixar de usar certo produto, além de encontrar a melhor maneira de conservá-los. Também oferecemos outras opções, como treinamentos para que os clientes aprendam a usar o software da melhor maneira.

Atualmente existe uma cultura de startup de colocar o produto no mercado mais rapidamente e ajustá-lo depois, conforme a aparição dos problemas. O que você acha desta prática?

Ah, você está se referindo à Microsoft? [risos] Nossos consumidores nos pagam justamente para garantir que o produto comprado vai funcionar perfeitamente. Eles têm altas expectativas e não podemos deixar de superá-las. Mas é comum que os desenvolvedores queiram ver seus softwares no mercado o mais rapidamente e isto já aconteceu com o SAS. Tivemos que desacelerar alguns lançamentos para trabalhar mais nos softwares, pois são muitos [cerca de 200] e merecem atenção.

Você ainda programa? Está desenvolvendo algo no momento?

O que faço hoje em dia é oferecer ideias ao departamento de pesquisa e desenvolvimento. Eu sugiro soluções para alguns problemas e até coisas novas. Também costumo trabalhar em coisas pontuais. Por exemplo, há três anos nós tínhamos um cliente que precisava de ajuda e eu cuidei disso pessoalmente. Atualmente minhas contribuições são neste sentido. Eu gosto de ajudar os nossos usuários. Minha maior discussão do momento gira em torno das novas aplicacões in-memory [que o SAS pode hospedar em seu servidor], por isso não tenho tido muito tempo para criar.

Por que você escolheu vender seus softwares como licenças anuais?

Em 1976, quando começamos, esta era a única maneira de vender softwares e nós mantivemos desta forma por nos dar estabilidade de receita. Também tem o lado do conceito do software. Eu acredito que software não é como um livro, que você imprime e mantém igual. Ele é como um organismo vivo que precisa ser constantemente melhorado e refinado. Não podemos vendê-lo uma vez e não oferecer atualizações.

Que tipo de conselhos você daria aos jovens desenvolvedores? E aos líderes de empresas que sonham em crescer globalmente?

Eles precisam lembrar que há um longo caminho a se percorrer até que o software se torne bom para rodar em empresas ou ser usado por milhares de pessoas. Para os líderes daria um conselho que sigo sempre: escute seus clientes. É muito importante que eles desenvolvam softwares que sejam interessantes às pessoas. Sem isso, pode acontecer uma crise como a de 2010, em que pessoas estavam desenvolvendo softwares que não eram úteis para o mercado. É preciso saber se há um espaço real para o programa que você está criando. Poucas pessoas são como Steve Jobs, que conseguem desenvolver produtos completamente novos que nem mesmo os consumidores sabiam que gostariam de ter.

Falando em futuro, o que você acha que veremos na área de software de análise de dados daqui para frente?

Eu acho que nossos softwares de "high performance" são inovadores a todos. No entanto, sei que mais e mais pessoas estão em busca de soluções móveis, portanto, no futuro nos focaremos cada vez mais em softwares para tablets e smartphones.

O SAS já esteve em primeiro lugar na lista mundial do Instituto Great Place to Work como a melhor empresa para se trabalhar, em 2010 e 2011. Quais as características essenciais para que um profissional se una à equipe?

Acho que o profissional precisa ser muito bom no que faz. Gostamos de especialistas na área e, especialmente, de pessoas que são dão bem com pessoas. Não temos "prima donnas"[estrelismos] por aqui. Queremos que todos tenham orgulho de fazer parte do nosso sucesso e também oferecemos um ambiente de desafios para que os profissionais se mantenham estimulados. Também não tercerizamos muitos trabalhos na empresa, pois acredito que esta estratégia une a equipe.

Quando você passou Mark Zuckerberg na lista da Forbes, muitas pessoas compararam seus perfis. O que você achou disso?

Na verdade, houve um erro, pois calcularam meus ativos com base nos dados do SAS. A fortuna do Zuckerberg é possível de ser calculada, pois ele abriu o capital da companhia, mas no meu caso não. No geral, acho que ele teve muita sorte por ter tido uma boa ideia. Todo mundo quer se comunicar e ele conseguiu fazer isso de uma boa forma. No SAS fazemos análises de mídias sociais, mas não usamos muito o Facebook, porque existem muitos dados privados. Porém, este mercado de mídias sociais oferece um bom espaço para o 'text mining', que nada mais é que tirar boas informações de textos publicados.

Na sua opinião, quais outras empresas do mercado fazem um bom trabalho?

Google e a Amazon.

* A jornalista viajou à Carolina do Norte (EUA) a convite do SAS.  

Fonte: http://olhardigital.uol.com.br/negocios/digital_news/noticias/falamos-com-o-homem-que-desbancou-zuckerberg-entre-os-mais-ricos

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