Em sete anos, desflorestamento da floresta caiu de 27 mil km² para 6 mil.
Resolução já permite localizar queimadas ou clareiras abertas na floresta.
Vigiar o desmatamento na Amazônia virou uma tarefa menos complicada com
algumas novas tecnologias. Com satélites e programas de computador, em
sete anos, o desflorestamento da floresta caiu de 27 mil quilômetros
quadrados para 6 mil.
Flagrados do alto, os criminosos não tiveram tempo de se esconder, e
confessaram. Nem uma clareira pequena, no meio da floresta que tem mais
de cinco milhões de quilômetros quadrados, escapa aos olhos que vigiam a
Amazônia.
Essa história começa em São José dos Campos, interior de São Paulo, no
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, um dos principais centros de
produção de tecnologia do país. É lá que está o único laboratório do
Hemisfério Sul com capacidade de realizar os testes necessários antes do
lançamento de um satélite de verdade.
A réplica do Amazônia 1, o primeiro satélite 100% nacional, tem que
suportar tudo: calor, frio, ondas eletromagnéticas, inclusive as enormes
vibrações sonoras produzidas na hora do lançamento.
O teste de vibrações é feito em uma câmara acústica. No teto, três
cornetas criam poderosas ondas sonoras que vão se chocar contra cada
peça da reprodução do satélite.
Quando o som começa a sair por buracos no teto, a vibração é
gigantesca. É como se colocassem 50 turbinas de avião todas apontadas
para um ponto a 15 metros de distância. Ninguém suportaria a pressão, e a
sala é toda hermeticamente fechada com placas e com uma porta enorme.
A porta tem meio metro de espessura, é recheada de areia e pesa 22
toneladas. Demora dez minutos para fechar. Os satélites são o ponto de
partida para outra tecnologia. Há mais de 20 anos, o Inpe usa as imagens
captadas a centenas de quilômetros de altura para combater o
desmatamento da Amazônia.
Hoje, o trabalho é feito no centro regional da Amazônia, em Belém do
Pará. “Essa nova imagem vem para os nossos técnicos aqui e os técnicos
fazem a interpretação desse solo exposto que foi gerado o corte raso",
diz o geógrafo Luis Sadeck, especialista em geotecnologia.
Em cima, no satélite, haverá sensores que capturam a energia
eletromagnética, popularmente conhecida como a luz. O sol emite essa
luz. Essa luz incide sobre os alvos e atinge esses alvos, que podem ser
vegetação, casa, carro, a gente.
Essa reflexão retorna para o sensor, e todas as barreiras atmosféricas
vão reduzindo essa quantidade de energia. Lá na frente, o sensor
consegue capturar alguma parte dessa energia, que é transformada em
pulso eletromagnético, enviado para alguma estação na Terra e convertido
em imagem.
As imagens de satélite nascem de um pulso eletromagnético que viaja
pelo espaço e atravessa a atmosfera até bater na superfície do planeta.
Pode atingir água, prédios, árvores ou o solo descoberto. Cada obstáculo
gera uma onda diferente que viaja de volta até o satélite, é processada
e enviada aos radares na Terra.
No Inpe, as imagens são analisadas por um programa de computador criado
a partir da experiência dos técnicos. A cor, a forma, a textura e a
atividade econômica da região estudada criam um padrão que revela se
houve uma queimada, corte das árvores de maior valor na floresta ou
derrubada indiscriminada da vegetação.
"Quanto melhor você sabe sobre esse processo de desflorestamento, mais
fácil você atacar onde estão as vertentes que estão gerando esse
desflorestamento", diz Alessandra Gomes, chefe interina do Centro
Regional da Amazônia.
O banco de dados do Inpe orienta políticas do Ministério do Meio
Ambiente. “Antes, ficava um jogo de empurra-empurra. Um dizia que era
agricultura, outro que era pecuária. Agora, com o 'Terra Class', não.
Sabemos exatamente o que é, quem é o responsável”, explica Roberto Dias,
engenheiro florestal do Inpe/Belém.
Mariam Akhter faz parte de uma das turmas de técnicos estrangeiros que
vieram ao Brasil aprender a usar o programa de monitoramento das
florestas. "Eu fiquei sabendo pela internet sobre o desenvolvimento
desse software e do sucesso que ele tem para monitorar o desmatamento.
Nós viemos porque talvez a gente consiga replicar nos nossos países, nas
nossas florestas. E isso pode ser útil para nós", afirma.
A resolução das imagens já permite localizar diariamente pequenas
queimadas ou clareiras abertas no meio da floresta. "A partir do momento
que a gente identifica, nós emitimos um alerta para o Ibama. Eles fazem
essa triagem e vão ao local fazer a fiscalização dessa abertura recente
de uma área", diz Rosana Sumiya Gurgel, geógrafa do INPE/Belém.
Desde que o alerta passou a ser enviado para a sede do Ibama, em
Brasília, a realidade da fiscalização mudou. "A gente já não vai mais a
grandes operações procurando uma agulha no palheiro", afirma George
Porto Ferreira, coordenador geral de monitoramento ambiental do Ibama.
Desde 2004, quando começou a ser usado o Deter, programa de detecção em
tempo real, o desmatamento na Amazônia caiu de 27.423 km² para 6.418 em
2011. Veja a evolução da queda do desmatamento:
2004: 27.423 km²
2005: 18.846
2006: 14.109
2007: 11.532
2008: 12.912
2009: 7.464
2010: 7.000
2011: 6.418
2005: 18.846
2006: 14.109
2007: 11.532
2008: 12.912
2009: 7.464
2010: 7.000
2011: 6.418
Os alertas são emitidos diariamente para os estados da Amazônia Legal.
São tantos que entram em uma fila de fiscalização. No dia da gravação,
uma clareira foi localizada em Sinop, no Mato Grosso, e a reportagem foi
conferir.
A informação do Deter é transformada em plano de ação. Quando o acesso é
difícil, a equipe vai de helicóptero. As copas das árvores formam um
oceano verde. A Amazônia é um ecossistema imenso e difícil de ser
protegido.
As coordenadas apontadas pelo satélite são um endereço certeiro no meio
da floresta. Em 40 minutos, os fiscais encontram a clareira. O trator
ainda arrastava os troncos derrubados.
A área toda tem cerca de 150 hectares. Havia 15 dias, tinha sido
queimada e o desmatamento começado na semana anterior. Metade das
árvores já haviam sido derrubadas por um trator. Como o Deter conseguiu
identificar a clareira que começou a ser aberta e o Ibama chegou ao
local e fez o flagrante, a máquina foi apreendida e o dono do terreno
será obrigado a recuperar a área. Tudo isso só foi possível pelo
monitoramento de cima.
“Sem isso, talvez, a gente chegaria por terra, seria avisado
antecipadamente e não conseguiria encontrar o trator, as pessoas aqui
trabalhando, sequer talvez identificar a área”, diz Evandro Selva,
gerente do Ibama em Sinop. O flagrante é apenas o primeiro passo para
proteger a floresta.
“Nós vamos embargar essa área, e entrar com medida administrativa ou
judicial que vai obrigar o responsável, o proprietário, a recuperar a
área degradada”, afirma Renê Luiz de Oliveira, chefe de fiscalização do
Ibama em Mato Grosso.
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