Tecnologia e crescimento econômico
Os economistas ainda não contam com uma teoria unificada do crescimento econômico.
Livros e revistas acadêmicas contêm uma infinidade de modelos e
paradigmas que geram diferentes (e por vezes contraditórias) previsões
sobre a mecânica do processo de crescimento.
Em meio a essa confusão intelectual, um elemento em comum na maioria
dos modelos de crescimento modernos da Teoria Neoclássica do
Crescimento, desde sua elaboração por Solow, em 1956, está o papel
central das melhorias "tecnológicas" para a promoção e manutenção da
expansão do PIB a longo prazo.
Em economia, tecnologia refere-se ao modo como entradas - como
matérias-primas - para o processo de produção são transformadas em
saídas - eventualmente produtos.
Melhorias tecnológicas aumentam a produtividade das entradas, o que
significa que se pode obter mais saídas a partir da mesma quantidade de
entradas.
Por isso, um país não pode sustentar o crescimento do PIB se sua tecnologia não melhorar.
O que está por trás das melhorias tecnológicas são novas ideias e descobertas.
A descoberta da eletricidade e o desenvolvimento do motor de
combustão interna são apenas duas das várias inovações tecnológicas do
século 19 que permitiram que a economia mundial crescesse tão rápido nos
primeiros 70 anos do século 20.
É claro, as ideias não precisam ser limitadas a feitos de engenharia.
A decisão de Henry Ford, em 1914, de pagar salários bem acima do
mercado (hoje chamamos isso de "salário de eficiência") foi uma ideia
que impulsionou a produtividade tanto quanto outras técnicas inovadoras
de produção em massa de Ford.
Por mais de dois séculos e meio, desde a Primeira Revolução
Industrial (1760-1830), os avanços tecnológicos têm estado na origem de
um aumento sem precedentes na renda per capita na história humana.
Crescimento econômico não é para sempre
Mas será possível que estejamos chegando no final desta era de crescimento econômico rápido?
Em agosto de 2012, o professor Robert J. Gordon, da Universidade
Northwestern (EUA), publicou um artigo para desafiar o quase universal
pressuposto de que o crescimento econômico é um processo contínuo que
vai durar para sempre.
O argumento de Gordon é preocupantemente simples: se não formos
capazes de gerar uma nova revolução industrial (ou melhor, uma sequência
de novas revoluções industriais), o crescimento econômico nas economias
avançadas inevitavelmente se aproximará de zero até o final deste
século, e vai ficar lá por um tempo indeterminado.
Este argumento baseia-se na observação de que o crescimento econômico
foi efetivamente próximo de zero ao longo da história humana, até por
volta de 1750.
Então aconteceram as revoluções industriais. A Primeira Revolução
Industrial (das máquinas a vapor e das ferrovias) provocou uma
aceleração inicial de crescimento nos países (particularmente no Reino
Unido) que adotaram as novas tecnologias.
Mas foi a Segunda Revolução Industrial (eletricidade, motor a
combustão interna, produtos químicos, petróleo) e invenções derivadas
(aviões, rodovias interestaduais, etc) que foram realmente responsáveis
por quase um século de aumento rápido de produtividade entre o final de
1800 e o início dos anos 1970. Foi durante essa fase que o crescimento
do PIB atingiu seu pico em economias tecnologicamente avançadas.
Estamos vivendo atualmente a Terceira Revolução Industrial (computadores, web, comunicação móvel).
De acordo com os dados de Gordon, no entanto, esta gerou um impulso
mais suave e mais efêmero na produtividade do que a Segunda Revolução
Industrial. Consequentemente, o crescimento econômico começou a
diminuir.
No seu ritmo atual de declínio, o crescimento econômico vai retornar ao seu nível pré-1750 em 2100.
Novo impulso tecnológico
É claro que um novo impulso tecnológico poderia deter o declínio e
iniciar uma nova fase de alta produtividade e crescimento do PIB.
Mas Gordon argumenta que não é provável que isso aconteça. Com
certeza nós vivemos em um mundo onde novos produtos tecnológicos
tornam-se disponíveis quase continuamente. Mas nem todas as invenções
são iguais.
Uma forte aceleração do crescimento seguiu-se à Segunda Revolução
Industrial, mas não à Terceira, cujos efeitos parecem ter sido bastante
limitados.
Mas, nas palavras de Gordon, a Segunda Revolução Industrial consistiu
de invenções que "só podem acontecer uma única vez". Por isso, é
difícil que novas revoluções industriais como a segunda aconteçam de
novo no futuro.
Ou, em outras palavras, a tecnologia vai continuar a melhorar, mas
estas melhorias não serão do tipo necessário para dar um novo impulso à
produtividade e ao crescimento do PIB. O recuo da inovação acabará por
levar a um futuro de estagnação.
Vida e morte das profecias
O tempo provou que a Profecia Maia estava errada. Mas e quanto à Profecia de Gordon?
Um futuro de crescimento econômico quase zero, com renda per capita
estagnada, é algo que a maioria (embora não todos) temeria. Sem
crescimento econômico é difícil melhorar os padrões de vida, reduzir a
pobreza e promover o desenvolvimento social e humano.
Mas pode haver razões para não se desesperar.
Em primeiro lugar, a análise de Gordon é limitada em vários aspectos.
Ele explicitamente se concentra em países na fronteira da inovação
tecnológica, isto é, o Reino Unido até 1906 e os EUA depois disso.
Então, o que ele prevê é que o crescimento econômico nos EUA, e, por
extensão, nas outras economias tecnologicamente mais avançadas, vai cair
para zero em 2100.
Entretanto, o mundo é composto de muitos países que não estão na
fronteira. Para esses países, o crescimento positivo irá persistir para
além de 2100, até que eles se equiparem aos EUA. Nesse ponto, o
crescimento será provavelmente zero para todos os países, mas pelo menos
as disparidades de renda per capita entre os países terão sido
reduzidas significativamente.
Em segundo lugar, é muito difícil fazer previsões de longo prazo.
Isto é particularmente verdadeiro em economia. Independentemente da
qualidade dos dados e quão razoável seja a intuição subjacente, qualquer
previsão sobre com o que a dinâmica econômica poderá se parecer em 2100
é, necessariamente altamente especulativa. Por isso, não é
surpreendente que o próprio Gordon apresente sua teoria como
"deliberadamente provocadora".
Terceiro, argumentar hoje que uma onda de progresso tecnológico de
amplitude e relevância comparáveis às da Segunda Revolução Industrial
não vai acontecer no futuro distante é, novamente, uma mera especulação.
Algumas inovações podem ser menos potencializadoras do crescimento
econômico do que outras. Mas nos sistemas econômicos dinâmicos e
altamente interligados da atualidade, os empresários buscam
continuamente oportunidades de inovar a fim de se ajustar a choques e
ambientes em constante mudança.
É por causa dessa "resiliência empresarial" que o progresso
tecnológico ocorre e não há razões para acreditar que isso não vai
eventualmente evoluir para uma nova revolução industrial.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
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