quarta-feira, 10 de abril de 2013

Entrevista exclusiva com Alan Emtage, o "pai do Google"

Alan Emtage
 Criador do sistema de buscas explica por que não patenteou sua ideia e virou símbolo da internet





Huffington Post
Quando Alan Emtage criou o primeiro sistema de buscas do mundo, em 1989, não imaginava que o serviço seria um dos grandes motores da internet.

A ferramenta, semelhante ao Google ou Bing, foi desenvolvida para ajudar professores e alunos da Universidade de Ciência da Computação McGill, localizada em Montreal (Canadá), a encontrar softwares armazenados em diretórios de FTP.

Emtage trabalhava como administrador de sistemas da faculdade e desenvolveu o buscador para facilitar a vida de seus colegas. No entanto, como a internet ainda era um embrião e não oferecia muitas oportunidades de negócios, o desenvolvedor não patenteou sua criação.

Em poucos meses várias pessoas na universidade - e fora dela - estavam usando o sistema, apelidado de Archie, que passou a ser comercializado por ele por meio de licenças. Mas o sucesso repentino não foi suficiente para estimulá-lo a registrar o serviço.

"Não mudaria a forma como as coisas aconteceram", afirmou Emtage em entrevista exclusiva ao Olhar Digital. O "pai do Google" garante que a vida é curta demais para se arrepender e que patentear uma ideia tão inovadora poderia acabar com a inovação futura.

No bate-papo abaixo, você conhece a história do visionário que criou um dos negócios mais rentáveis da web e descobre o que ele sentiu quando viu os buscadores se transformarem em um grande sucesso.

Quanto tempo o Archie durou?   

Até hoje usam o serviço da Polônia. O engraçado é que o mundo só ficou sabendo da existência do Archie em 2011, sendo que em 1990, quando algumas pessoas passaram a usar o motor de buscas que eu criei, eu já usava a tecnologia em meus trabalhos pessoais há um ano. (Acesse o site polonês aqui)

Reprodução

Na época em que você criou o Archie não era comum patentear ideias? Você chegou a ganhar dinheiro com o serviço?

A técnica básica, chamada de “crawling” (“rastreamento”, em português), é a mesma usada pelos sistemas de busca na internet hoje em dia. A principal diferença entre o Archie, que indexava arquivos de FTP, e os sites atuais é que a web permite uma busca automatizada. Ao examinar os links contidos em páginas da web você pode descobrir novos sites para rastrear. Os arquivos de FTP não têm links para outros arquivos, dessa forma, cada site deve ser descoberto por outros meios, geralmente sendo apresentados para a indexação pelos seus operadores.

Faturei um pouco quando passei a vender licenças do software para universidades e corporações ao redor do mundo. Eu e alguns sócios iniciamos a primeira companhia dedicada a serviços de softwares em 1992, ela se chamava Bunyip Information Systems. Não foi por descuido que não patenteamos as técnicas de indexação e rastreamento do Archie. Nós achamos que poderíamos suprimir a inovação e o desenvolvimento de algo que era muito novo ainda. Algumas pessoas esquecem que o Tim Berners-Lee (considerado o 'pai' da Internet) lançou a público a World Wide Web e também não patenteou sua ideia pelos mesmos motivos.

Reprodução
Como você se sentiu ao ver o sucesso do Google? Você daria alguma sugestão a eles?

Eu fico feliz com o sucesso do Google. A empresa trouxe uma série de novidades ao mundo das buscas, apesar de não ser o primeiro buscador da história. Muitos outros chegaram antes dele, como o Lycos, Altavista, Yahoo! e Inktomi, o Google apenas soube aproveitar melhor o poder dos dados contidos nas páginas da web. Eu estou fora do segmento de buscas há 15 anos. Tenho certeza que eles poderiam me ensinar mais coisas sobre buscas do que eu posso imaginar.

Você já pensou em voltar a trabalhar com buscas, especialmente em uma das maiores empresas do setor, como Google ou Microsoft?

Nunca pensei nisso. Não sou o tipo de pessoa corporativa.

Já pensou em desenvolver algo para competir com estas companhias?

Absolutamente não. Eu acho que este é um negócio muito, muito complexo e sofisticado. Existem milhares de pessoas trabalhando para tornar as pesquisas melhores e, sinceramente, não acredito que teria muito com o que contribuir.

O que você faz hoje em dia? Está trabalhando em algum projeto de tecnologia inovador?

Eu trabalho em uma pequena companhia de desenvolvimento web, chamada Mediapolis, localizada em Nova York [Estados Unidos]. Nós somos uma espécie de companhia “boutique” de engenharia de software que oferece sites de última geração aos clientes.

Não tenho inventado nada. Acho que criar o primeiro buscador da história é suficiente para uma única pessoa. Nos últimos anos, eu mudei meu foco e passei a me envolver em atividades mais artísticas, como fotografia. Eu tenho feito exposições em Nova York e meu trabalho pode ser conferido neste site.

Como você imagina o futuro das buscas?

Acredito que estamos passando por uma fase muito interessante do segmento. Facebook, Google, Wolframalpha e outros sites estão explorando a ideia da “web semântica”, que significa entender o que você está procurando. Não somente compreender os termos, mas o conceito das coisas que você está buscando.

Por exemplo, se você buscar por “Leonarco Da Vinci” no Google, o site não trará somente os resultados padrões, mas algumas imagens, descrição, biografia e outros dados. Isso não é algo que o Google fez exclusivamente para o pintor, os algoritmos que eles usam determinam que ele é um termo digno de atenção adicional, devido à quantidade de dados online sobre ele e o grande número de pessoas que buscam pelo seu nome. O Google tem cerca de 500 milhões de termos deste tipo, com informações associadas automaticamente.

Você tem algum conselho para quem está criando algo para internet e quer abrir um negócio?

Acho que diria para serem realistas. Fale com pessoas em quem você confia e que te darão feedbacks honestos. Você pode achar que tem uma grande ideia e somente pessoas verdadeiras  dirão se você está vivendo uma realidade ou fantasia.

OLHAR DIGITAL 

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