sexta-feira, 26 de julho de 2013

Presidente da IBM Brasil explica como a tecnologia pode mudar o País

Em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, Rodrigo Kede comenta as contribuições da companhia para o avanço socioeconômico e sua trajetória na empresa 

 
Há 20 anos, Rodrigo Kede foi contratado como estagiário de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, a IBM. Hoje, aos 41, o executivo conquistou o topo mais alto de sua carreira: presidência da filial brasileira, a primeira aberta fora dos Estados Unidos.
Kede é o mais jovem CEO da companhia e há cerca de um ano vem tentando, através de seu trabalho na IBM, tornar o Brasil "um País melhor para os filhos". Seu objetivo é audacioso: ver o Brasil entrando no time dos desenvolvidos, utilizando a tecnologia como principal motor. Os esforços vão desde investimentos em treinamento e desenvolvimento de profissionais, até aplicação em pesquisa e inovação. 
"Estamos trazendo para o país o que existe de mais inovador nessas soluções de alta tecnologia, procurando fazer das empresas e organizações locais referências no seu setor, com isso afetando diretamente a cadeia produtiva. Empresas e governos mais eficientes investem mais, contratam mais e melhoram a sociedade de uma forma geral", afirma.
Em uma entrevista exclusiva ao Olhar Digital Pro, que inaugura a nova área do site, Kede comenta quais estão sendo suas contribuições para a transformação do País e sua trajetória na empresa centenária. Confira abaixo.
OD PRO - Como é ser o mais jovem presidente da IBM Brasil e assumir o comando de uma das subsidiárias que mais está em evidência no momento? Quais são os maiores desafios? 
Rodrigo Kede - Minha nomeação como presidente, há cerca de um ano, foi a evolução de uma carreira de 20 anos, construída passo a passo, com diferentes experiências, em diferentes áreas, em diferentes países, com diferentes desafios, e sempre na mesma empresa. Hoje tenho 41 anos, mas sempre me coloquei em funções relevantes independente da idade [Kede foi nomeado diretor financeiro da IBM aos 33 anos de idade]. 
A empresa, apesar de centenária, sempre teve meritocracia e inovação em seu DNA e, por isso, sempre se preocupou em desenvolver e formar líderes desde cedo. [A IBM foi eleita pela revista Fortune, em 2011, pela segunda vez consecutiva, como a empresa que melhor forma líderes no mundo]. 
O Brasil, junto com a China, é o país onde a companhia está apostando as fichas para um crescimento acelerado, mesmo considerando que estamos aqui há 97 anos, a expectativa é grande. Somos hoje a maior empresa de tecnologia B2B no Brasil e no mundo. Temos uma grande penetração não somente nas grandes empresas, mas também nas pequenas e médias, ao contrário do que muitos pensam. 
Tenho um grande objetivo de poder ampliar os projetos para as cidades e governos, com a visão de fazer um Brasil mais inteligente e melhor para se viver. Temos bons exemplos no mundo inteiro e alguns no Brasil, como o COR (Centro de Operações) do Rio de Janeiro, e estou trabalhando para replicá-los e ampliá-los.  Como qualquer brasileiro, eu gostaria de ver um país melhor para meus filhos e as nossas iniciativas tocam tanto o setor público quanto o privado. 
Você comentou que algumas companhias ainda têm a imagem de que a IBM só vende para grandes empresas, e o Brasil é um hub de pequenas e médias organizações. Como mudar esta imagem no país? 
Tenho investido muito tempo visitando clientes de todos os portes em diversas cidades brasileiras (temos mais de 30 filiais pelo país) com o objetivo de mostrar a estas empresas que temos ofertas e soluções diferenciadas independente do tamanho e setor que operam. 
Voltando à sua carreira: Como foi o processo de crescimento dentro da empresa? Dê dicas para quem pensa em fazer história em uma multinacional. 
ReproduçãoSaber escolher a empresa em que você vai trabalhar é fundamental. A IBM é uma empresa grande, sólida, com um lucro líquido global de US$ 16,6 bilhões em 2012 e com mais de 430 mil funcionários, presente em mais de 170 países no mundo. Apesar disso, a minha escolha pela IBM não foi pelo seu tamanho, mas pelas oportunidades que vislumbrava numa empresa desse porte. 
O fator decisivo que me fez vir trabalhar para a IBM foram as pessoas que me entrevistaram. Vi que a empresa tinha um ótimo ambiente, pessoas legais e valores bem alinhados com os meus. 
O tamanho da empresa e a forma como ela trabalha ofereceram-me oportunidades de passar por diversas áreas, aprendendo inúmeras atividades, contribuindo muito para o meu desenvolvimento profissional. Quando as pessoas me perguntam o que eu fiz de certo para ter saído de estagiário e chegado a presidente, eu digo que foi porque sempre procurei sair da minha zona de conforto. 
Assim que surgia um novo desafio, eu me candidatava para solucioná-lo, mesmo não conhecendo bem a área. Sair da zona de conforto é para mim fundamental no desenvolvimento pessoal de qualquer um, independente da área ou empresa que trabalhe. 
Outra questão determinante na minha carreira foi a dedicação pessoal. Se desejamos crescer temos que trabalhar muito. Nunca contei com a sorte. Acredito que, quanto mais eu me dedico, mais sorte tenho. As oportunidades aparecem para quem realmente trabalha para alcançá-las. Sempre tive que lidar com os desafios gerados por uma carreira intensa. Não é fácil gerenciar temas importantes como família e saúde, mas sempre consegui fazê-lo de forma satisfatória. 
Em uma entrevista em dezembro passado você disse ter a ambição de ver o Brasil entrar no time dos países desenvolvidos em 10 a 15 anos. Como a IBM e sua gestão podem contribuir para isso? 
O Brasil ocupa a posição de 7ª maior economia do mundo, o que reflete os crescentes investimentos que vêm ocorrendo no país. O setor de tecnologia tem participação importante no desenvolvimento e na evolução da indústria brasileira. Países como o Brasil e a China ainda tem um gasto em tecnologia, como parte do PIB, inferior a países desenvolvidos e esta diferença vem caindo ano após ano com os investimentos que estão sendo feitos no setor. 
A tecnologia passa por um momento de grande transformação. Cloud, Mobilidade, Social Business e Big Data/Analytics estão mudando a forma como as empresas e os governos trabalham e interagem com seus clientes, funcionários e a própria sociedade.

A IBM atua no segmento de alta tecnologia e o nosso negócio, felizmente, não é inteiramente dependente do resultado do PIB do país, como as empresas de tecnologia focadas em commodities. Desenvolvemos soluções para tornar as empresas, organizações e governos muito mais eficientes e inteligentes. Em situações de crise somos até mais solicitados que o normal pela necessidade urgente de eficiência e redução de custos.
Outro ponto é o investimento constante e consistente que a IBM tem realizado no Brasil em pesquisa e desenvolvimento, em inovação e no desenvolvimento de talentos. Estamos trazendo para o País o que existe de mais inovador nessas soluções de alta tecnologia, procurando fazer das empresas e organizações locais referências no seu setor, com isso afetando diretamente a cadeia produtiva. Empresas e governos mais eficientes investem mais, contratam mais e melhoram a sociedade de uma forma geral.
 
Quais foram os últimos investimentos da IBM neste sentido?   Em 2011 inauguramos no Brasil o nono laboratório de pesquisa da IBM e o primeiro do hemisfério sul, o que demonstra não só o compromisso da empresa com o país, mas também reflete as expectativas que existem em relação ao país. Este laboratório tem a função de criar e desenvolver novos produtos e ativos prioritariamente em 4 áreas: recursos naturais, semicondutores, mega eventos e ciências de serviços.
A cada ano, a companhia investe aproximadamente US$ 6 bilhões em P&D, e há 20 anos consecutivos a IBM é líder em registro de patentes. Temos 4 Prêmios Nobel no currículo e várias das invenções saíram dos laboratórios da IBM, como por exemplo: o PC, o código de barra, o cartão magnético, a tecnologia para cirurgia ocular a laser, a memória em disco rígido e muitas outras.

Reprodução  
O primeiro PC foi criado em agosto de 1981

Há um discurso recorrente no mercado que afirma faltar profissionais qualificados no Brasil, especialmente engenheiros. Este déficit de bons profissionais pode ser um entrave para a inovação do país? Como a IBM pode ajudar o Brasil neste quesito? 
Acredito que algumas providências são primordiais. O governo deve dar continuidade ao processo e aumentar os incentivos às áreas relacionadas à pesquisa e desenvolvimento, engenharia, matemática e outras carreiras relacionadas. Outro ponto fundamental é o aumento da parceria de empresas de tecnologia com universidades, aspecto crucial para incentivar a formação de mão de obra especializada nessas áreas.
A IBM Brasil investe cerca de US$ 6 milhões por ano em treinamento e desenvolvimento do seu time. O investimento é constante e inclui não somente cursos técnicos, mas também treinamentos nas áreas de liderança, idiomas e habilidades interpessoais. A qualificação da mão de obra é um quesito chave para a entrega de um serviço de qualidade aos nossos clientes, ainda mais em um setor como o de TI, onde há demanda elevada de vagas e defasagem de formados.
A cloud computing, o Big Data, o social e a mobilidade são as grandes tendências atuais. Como está sendo a adoção destas tecnologias no Brasil? O que falta para nos igualarmos a países mais desenvolvidos?
Não existe dúvida alguma que estas quatro grandes tendências vão se intensificar bastante nos próximos anos no Brasil. Hoje, os maiores usuários destas tecnologias são os Bancos e os Varejistas, mas não tenho dúvidas que Seguros, Educação, Saúde e CP, entre outras, também serão adeptas a elas.
Uma pesquisa realizada pela IBM sobre Big Data mostrou que as empresas têm demonstrado interesse cada vez maior na exploração dessa imensidão de informações. Só no Brasil, mais de 70% das empresas já percebem a vantagem competitiva do uso analítico das informações que compõem o Big Data. Em 2010 esse índice não chegava a 40%.
Em outro estudo, sobre Social Business, vimos que 62% dos líderes planejam aumentar seus investimentos em Social Business nos próximos três anos, mas 75% deles ainda se sentem despreparados para as mudanças culturais que a adoção dessas tecnologias requer.

Soluções de mobilidade também representam grandes oportunidades. O Brasil é responsável por 37% das vendas de aparelhos na América Latina. Entre 2015 e 2016, estima-se que as pessoas terão de dois a três dispositivos móveis simultaneamente e que os preços caiam cada vez mais.
E sobre cloud computing, eu vejo que esse já é um conceito maduro no Brasil, mas muitas empresas ainda se preocupam com a segurança. As empresas já enxergam o benefício que a adoção da computação em nuvem pode trazer para o seu negócio, e têm procurado parceiros que tenham expertise na implementação e gerenciamento de tecnologias eficientes. Em 2012, a IBM investiu R$ 40 milhões nas instalações de Hortolândia (SP) dedicadas a soluções de cloud. Encaramos cloud computing como uma ferramenta de transformação do negócio.
Em uma entrevista em novembro de 2012, você comentou que a IBM era mais nova do que a Microsoft e o Google, porque, apesar de ter mais de 100 anos, nasceu várias vezes. Quais foram as principais mudanças? 
É verdade e acredito muito nisso. A IBM é uma empresa com mais de 100 anos, que nasceu de novo várias vezes.  Já vendemos tabuladoras, balanças, relógio de ponto, fatiadores de frios, relógios (o da Central do Brasil no Rio de Janeiro foi feito pela IBM, em 1943), máquinas de escrever, além de outros produtos antes de entrar na Era da Computação como a conhecemos hoje.
A reinvenção é uma característica da IBM. Ao longo dos últimos anos a IBM transformou completamente seu modelo de negócio. A empresa se desfez de operações que iriam se transformar em commodities, como os segmentos de PCs e impressoras, e ampliou os investimentos em áreas de alto valor, como consultoria, serviços, software e computadores de alta performance.
Um exemplo dessa capacidade de mudar e se reinventar ocorreu no início da década de 1990, quando a companhia passou por um momento complicado por não ter acompanhado um movimento importante de mercado. A grande lição aprendida foi que não devemos olhar só para dentro, mas também entender as necessidades dos clientes, ler os movimentos do mercado e ter uma visão do que será a tecnologia nos próximos dez ou vinte anos.

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